[RESENHA] Olhos D’água, Conceição Evaristo
Um livro de crônicas sobre a realidade afrobrasileira
(Publicado originalmente em Relicário Vasconcelos dia 28/08/2016)
Em Olhos d’água Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida? Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na “frágil vara” que, lemos no conto “O Cooper de Cida”, é a “corda bamba do tempo”. Em Olhos d’água estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres — todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição.
Título: Olhos D’agua
Autora: Conceição Evaristo
Editora: Pallas
Classificação Pessoal: 5
Olhos D’agua me surpreendeu pela realidade que ele descreve. É um livro cru, curto e grosso. Sem delongas. Retrata a realidade da periferia, de periféricos e em sua maioria, de mulheres periféricas. Ele já nasce como uma navalha. Em seu primeiro capítulo fala sobre uma mulher que tem olhos d’agua, “olhos de mamãe Oxum”.
Conceição Evaristo não errou em nada, como esperado. Ela acertou em absolutamente tudo. É um livro de cronicas, histórias pequenas que podem ser lidas no final do seu dia, no começo, no ônibus, no intervalo da escola/faculdade, onde quiser. Sem muitas desculpas, pois é um livro curto, não mais de 120 páginas, pra ser mais exata, 114. Olhos D’agua retrata aquilo que ninguém quer retratar. As vezes te tira sorrisos, outra, te deixa com o estômago revirado, de vez em quando você chora junto com os personagens, mas sempre bem real.
Obrigada a Lytta, linda, que me deu esse livro.